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Olhar de viajante

Caetano,


Hoje, entre uma mamada e outra e infinitas retiradas de leite, achei um tempo para ler um texto da revista Vida Simples.


Trata-se de um artigo escrito por um desconhecido que largou tudo para viajar o mundo por um ano com a esposa.


Está na moda fazer isso, Caetano.


Os jovens andam muito insatisfeitos com um monte de coisas, incluindo o modelo de trabalho padrão, que congela suas vidas diariamente em uma rotina monótona e sem surpresas. Mas isso é assunto para outro dia.


O que me inspirou hoje foi encontrar, nessa matéria de revista, uma descrição perfeita sobre como ser viajante transforma nossa vida na parte mais importante dela: quando estamos em casa, vivendo nossa rotina.


Nunca larguei tudo para viajar por um ano, embora sempre tenha tido vontade. Mas acho que sou boa em administrar minhas folgas e férias para sair por aí sempre que possível. Isso também me proporcionou a tal transformação de que fala o artigo: a transformação do olhar.


Não que seja preciso viajar para isso. É possível ter olhar de viajante sem nunca ter saído do lugar. Mas viajar é um bom treino quando nossa mente está totalmente ocupada com a rotina e a correria do dia a dia, como costuma acontecer na maior parte do tempo.


O olhar do viajante é atento. A mente do viajante é aberta. E quando isso vira hábito, é possível descobrir os encantos proporcionados por uma viagem em qualquer lugar, até mesmo na esquina de casa.


E encantos simples são capazes de revolucionar qualquer rotina, acredite.


O melhor de tudo? Eles estão presentes sempre, em qualquer lugar.


Mas é preciso querer enxergar.


Certa vez, em um inverno qualquer, saí do trabalho para almoçar e me deparei com uma cena linda. Estava na Afonso Pena, a mesma avenida pela qual eu passo toda semana, de segunda a sexta, pelo menos 3 vezes por dia. De queixo caído, parei para fotografar aquela cena, na tentativa de congelar um pouquinho do encanto que ela proporcionava.


Voltei do almoço renovada para mais uma tarde rotineira de trabalho.


Quando sentei na mesa, uma colega disse que havia me visto tirando fotos em plena Avenida e me questionou: afinal, o que poderia haver de tão interessante ali, naquela esquina tão movimentada, naquele cenário tão trivial?


Sem acreditar naquela pergunta de resposta tão óbvia a levei até janela pensando: como alguém poderia passar por ali e não perceber a beleza dos ipês?


Hoje, em meio a minha nova rotina de fraldas e mamadas, ainda procuro descobrir esses pequenos encantos. Normalmente seus incansáveis sorrisos e suas pequenas evoluções diárias bastam. Mas quando esse olhar me foge, vejo seus olhos vidrados, descobrindo cada pedaço da casa, cada nova cor, cada novo som, e me lembro que é exatamente sobre isso que estamos falando. O olhar atento. A curiosidade infantil.


Se tenho um conselho valioso para te dar, Caetano, é que você nunca perca a capacidade de enxergar o mundo dessa forma. Assim, a vida nunca deixará de ser interessante para você, por mais rotineiros que sejam os seus dias.


Como você irá fazer isso eu não sei.


Mas se quiser viajar, estarei com os braços sempre abertos para te levar comigo para qualquer lugar.


Seja para o Japão, ou para logo ali, na esquina de casa, onde hoje floresce um Jacarandá.


      Flávia Vilhena
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Sou a Flávia. Mãe do Caetano e do Augusto. Viajante, ex-blogueira (de viagem), advogada e agora escritora...

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