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Padecendo na amamentação



Já fazia um tempo que eu não escrevia, não é Caetano? É que a inspiração andou dando lugar para a preocupação (olha o padecer aí gente!).


Lembra da última carta, na qual falei sobre minha paixão pelo acaso. Veja ele aparecendo de novo em nossas vidas.


Justo hoje, a Shirley, do blog Macetes de Mãe, que por coincidência também tem um filho chamado Caetano, resolveu republicar um relato, escrito lá em 2013, sobre suas dificuldades com a amamentação.



Veio quase como um alento, num mundo em que as mães são tão pressionadas também sobre esse tema.


Somos diariamente convencidas de que amamentar é um ato natural. E eu também acreditei nisso. Tanto que tratei a sua amamentação com total naturalidade até receber a notícia de que algo estava errado, pois você não estava ganhando o peso esperado. Não perdeu, nem estagnou. Apenas não se enquadrou na curva pré-estabelecida.


Veja que ironia, Caetano, mais essa coincidência. Eu, que a vida inteira lutei contra a balança, agora tenho um filho lutando por uns gramas a mais. A boa notícia é que uma hora a gente faz as pazes com ela, a balança, nem que isso demore 30 anos, como aconteceu comigo.


Ao contrário da Shirley, não tive muitas dificuldades com a amamentação. Me preparei muito. Fiz cursos teóricos e práticos e também tive uma consultora de amamentação, que no segundo dia em casa me ajudou a resolver o problema do empedramento da mama. Não houve nenhuma fissura relevante, não senti as terríveis dores que relatam. Foram poucos dias de pequeno desconforto e muita dedicação. E, a partir daí, se tornou apenas prazer.


Você mamando sempre que queria, sem relógio nem regras. Eu achando que tudo fluía bem. Realmente sou daquelas mulheres que amam amamentar. É um momento delicioso, somente entre nós dois e que, se não bastasse, ainda te fornece o melhor dos alimentos. Não é pela pressão, eu apenas não largaria esses nossos momentos por nada desse mundo, justamente por serem tão bons para a gente.


Ao contrário do filho da Shirley, você também nunca teve dificuldade para mamar. Sempre procurando o peito da mamãe, com a cabecinha indo para frente e para trás e a boquinha aberta, te apelidamos de pica-pau! Pegou o peito nos primeiros minutos de vida e mamou por três horas seguidas. "Pega de foto de livro didático", disse a pediatra. Se dependesse de você, acho que moraria no peito, não é filhote? Nunca recusou uma mamada, mesmo quando é acordado para isso, ao contrário do que prega a regra.


A regra é a livre demanda. E poucas vezes você esteve acordado fora do peito da mamãe (é preciso trocar fralda e tomar banho também, não é mesmo?!). Mas você também gosta de dormir. Dorme a noite toda desde um mês e meio. Dorme longas sonecas ao longo do dia. Dizem que sou abençoada por isso. Mas se você dorme, você não mama. E, ao contrário das leis do mercado, nesse caso, se não há demanda, devemos aumentar a oferta.


E vai-se embora toda a naturalidade.


Agora você mama mesmo sem pedir. Não deveríamos nos preocupar com horários, mas temos um despertador que toca a cada três horas para você mamar. É preciso ordenhar leite pra complementar, porque pelo visto sua fome não é compatível com o que se espera de um bebê. Mesmo que você não chore quase nunca. Mesmo que não reclame. Mesmo que pareça sempre satisfeito, saindo capotado do peito após cada mamada. E além de dorminhoco, assim como o filho da Shirley, você também tem a suspeita de alergia ao leite de vaca. Já são 6 semanas sem aquele meu queijo canastra favorito e qualquer gota de leite em tudo que a mamãe ingere. A alergia justificaria o baixo ganho de peso, mas a dieta ultra restritiva não tem sido suficiente.


O engraçado é que, ao contrário do filho da Shirley, você adora o peito e muitas vezes apenas ele te acalma. Só nós dois sabemos quanto tempo passamos juntinhos assim, nutrindo corpo e alma. Só não sabemos ainda porque não está sendo suficiente. Mas vamos seguir tentando. É por nós que não quero desistir. Porque perdemos, ambos, a naturalidade desse processo tão fisiológico, mas não perdemos o prazer. E se algum dia precisarmos desistir, faremos sem culpa, com a certeza de que lutamos até o fim, inspirados pela emocionante experiência da Shirley e de tantas outras mães que choram e se culpam por isso.


A carta de hoje foi um desabafo. Mas amanhã é dia de festa. Dois meses ao seu lado. Eu plena e realizada. Você distribuindo sorrisos banguela que me derretem o coração. No fim, é somente isso que importa.


      Flávia Vilhena
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Sou a Flávia. Mãe do Caetano e do Augusto. Viajante, ex-blogueira (de viagem), advogada e agora escritora...

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