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É notícia



Caetano,


Desde que nasceu, você tem sido muito mimado.


Embora oficialmente você tenha apenas dois tios, na realidade são muitos mais: nossos irmãos de coração. E todos eles têm te enchido de presentes. Todos lindos, todos especiais e cheios de amor. Mas um se destacou. Pelo seu significado, pela sua originalidade. Pelo cuidado em sua aquisição.


Há alguns dias você recebeu a visita do Tio Stefan e da Tia Ju. Eles trouxeram presentes convencionais, inspirados na paixão da mamãe por viajar (falaremos sobre isso em breve). Mas trouxeram também uma caixa linda e grande, amarrada com laço de fita. Dentro, 10 jornais impressos do dia em que você nasceu. Mamãe amou de paixão. Um presente para o futuro, assim como os textos que escrevo para você.


O problema foi abrir um a um aqueles jornais. Entre todos, apenas um continha na capa uma notícia boa: a adoção da pequena Titi por um casal de atores brasileiros. Foi um alento ver a foto daquela linda garotinha em meio às demais.


Há quem tenha criticado o casal: por que não uma criança brasileira? Mas o amor não tem nacionalidade. E se o Brasil precisa de ajuda. Ah! A África precisa muito mais.


Curioso é que quando estava preenchendo o seu Livro do Bebê, tive dificuldades em completar a página sobre os principais acontecimentos da atualidade. Eram tantas notícias sobre violência, corrupção, crises econômica e política, Estado Islâmico, Trump, e o fracasso das olimpíadas (que, diga-se de passagem, confirmou-se um sucesso), que pensei em mentir.


Depois pensei em colocar somente notícias boas e, para minha surpresa, ao pesquisar na Internet não encontrei nenhuma. Por isso, ao receber os jornais do dia, quase dois meses depois, foi um alívio ver a foto de Titi na capa do Extra. Mais ainda porque, entre 10 jornais, esse foi o único que não trouxe a cara do Cunha estampada na primeira página. Ele não merecia tamanho destaque. Mas é que você nasceu no dia seguinte à sua custosa renúncia.


Ao ver aquelas fotos, fiquei me perguntando como iria te explicar, muitos anos depois, o que aquele personagem significava para nossa história. E confesso que minhas perspectivas eram desanimadoras.


Eis que hoje ele volta a estampar as capas do dia. Mas, dessa vez, a história fica menos difícil de ser contada. Entre os jornais de 08/07/2016 e os de hoje, um pequeno suspiro de alívio.


Eu, que já não nutria muitas esperanças por esse nosso país, sinto uma pontada desse sentimento surgir novamente. Existe um sinal, mínimo ainda, de que tudo pode melhorar. O processo é lento e as coisas precisam começar a acontecer de alguma maneira. Qualquer fato neste sentido é bem-vindo. E, não podemos negar, algumas coisas que até pouquíssimo tempo atrás dificilmente aconteceriam passam a se concretizar.


E, afinal, o ano do seu nascimento não se mostra mais tão ruim assim. Passo a acreditar nele como um divisor de águas. E renovo minhas esperanças de que, no dia em que você abrir essa caixa tão bonita, mas de conteúdo tão assustador, os jornais do dia, que possivelmente serão apenas digitais, trarão notícias melhores. Mais justas e alegres. Notícias de um mundo menos doente e mais gentil.


Para isso, Caetano, prometo ser também gentil com o mundo. E prometo me esforçar para criar em você a consciência de que um mundo melhor depende, em primeiro lugar, de você mesmo. Das suas ações. Dos seus gestos para com ele.


Seja delicado, meu filho. Delicado e gentil. Com você mesmo, com o outro, com o Brasil e com o mundo. Nós precisamos disso. E o mundo precisa de nós.


      Flávia Vilhena
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Sou a Flávia. Mãe do Caetano e do Augusto. Viajante, ex-blogueira (de viagem), advogada e agora escritora...

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