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Despedida

Caetano,


Eu tinha um tio, que não era meu tio de sangue. Era um tio de coração. Seu tio avô.


Na infância tínhamos uma convivência intensa, que a impermanência que permeia a vida tratou de transformar em raros encontros casuais. Em cada encontro, o mesmo abraço caloroso, o mesmo sorriso largo, as mesmas palavras de carinho, a mesma festa.


Festa, festa, festa! Como Tio Reinaldo sabia fazer festa! Nosso último encontro foi assim: casual, em uma festa. Eu com uma barriga gigante de 39 semanas de gravidez e uma preguiça enorme, ultrapassada por pouco por aquele desejo de comer canjica. Eu, que nunca sequer gostei de canjica, saí de casa naquela sexta-feira, às oito da noite, depois do último dia de trabalho antes da licença maternidade, exausta, pesada, para passar pouco mais de uma hora naquela festa junina.


Que canjica que nada, Caetano! Fomos nos despedir do Tio Reinaldo. Um último encontro casual. O mesmo abraço caloroso, o mesmo sorriso largo, as mesmas palavras de carinho, a mesma festa de sempre! Como ele se encantou com o meu barrigão... E aí me contou sobre o tempo... Se lembrou de como eu era pequenina. Era a vida seguindo seu ciclo.


Este é o ciclo da vida, Caetano. Ele se desenvolve das mais diversas e surpreendentes maneiras, mas termina sempre da mesma forma. Mesmo assim, não sabemos lidar com isso. É sempre um momento de dor.


Na última semana, por três vezes, fui lembrada sobre a nossa finitude. Sobre a fragilidade da vida, de nossos corações. Sobre como tudo não passa de um sopro. Mesmo sabendo disso, não é nada fácil entender. E diante dessa incompreensão, só nos resta fazer como o seu tio avô: saber viver. Viver intensamente. Viver o presente. Fazer da vida uma festa sem hora para acabar, para que, quando inevitavelmente acabe, tenha sido uma grande festa. A melhor de todas as festas.


E se temos todos que morrer, Caetano, é reconfortante saber que Tio Reinaldo se foi assim: sem dor, sem sofrimento, enquanto fazia aquilo que mais sabia fazer: celebrar a vida. Posso imaginar que, segundos antes, estava sorrindo. Um sorriso que não saia do seu rosto.

E ele, que tanto celebrou sua chegada, não pôde te conhecer... Mas pena mesmo, Caetano, é que você não poderá conhecê-lo... Aquele abraço caloroso. Aquele sorriso largo. Aquelas palavras de carinho. Aquela festa.

      Flávia Vilhena
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Sou a Flávia. Mãe do Caetano e do Augusto. Viajante, ex-blogueira (de viagem), advogada e agora escritora...

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