3 meses

3 meses se passaram, Caetano.

Apenas 3 meses... Mas... Como era mesmo a vida antes de você?

Muita coisa já mudou. Nunca nos entendemos tão bem. Dizem que os 3 meses são um como um divisor de águas. Você deixa de ser um recém nascido. É o fim da exterogestação. Não que você esteja pronto. Ainda precisa de muitos cuidados da mamãe. Ainda bem! Porque é cada dia mais gostoso cuidar de você. Cada dia mais gratificante.

Agora você acorda sorrindo. Um bom humor típico de quem vive para comer, dormir, tomar banho de banheira e receber massagem, carinho, beijos e amor.

Mas a mamãe sabe que não é bem assim. Se desenvolver tanto em tão pouco tempo dá trabalho.

Você cresceu. Se tornou um bebê atento a cada detalhe de tudo que o cerca. Já conversa em um idioma que mamãe aprendeu a dominar: a língua do amor. Já manifesta vontades próprias. Passeia. Brinca com alguns brinquedos, todos meticulosamente analisados para serem classificados como mais ou menos atraentes pelo único interessado: você. Mas a brincadeira preferida ainda é observar as caras e bocas do papai e da mamãe. É que às vezes eles parecem tão bebês quanto você. Bebês babões. Aliás, você também anda babão. Mais uma novidade entre tantas outras que aparecem diariamente. Algumas coisas, contudo, continuam iguais. O quadro colorido da sala permanece como uma grande distração. O peito da mamãe também. Esse é nosso grande momento. Fonte de nutrição e prazer, para mim e para você. Agora você já me olha nos olhos enquanto mama. Um olhar fixo acompanhado do carinho de suas mãozinhas quentes passeando pelo meu colo. Quanta cumplicidade. Quanto amor. Quanta confiança. Quanta retribuição.

Mas nem tudo foram flores. Ao contrário dos dois primeiros meses, nesse terceiro, em meio a tantos momentos de puro encantamento, também passamos por momentos de profundo aprendizado: sobre a vida, sobre a intensidade da maternidade, sobre seu real significado. Em apenas 3 meses, Caetano, aprendi mais com você que em 32 anos. E aprendi também que a vida não faz mais sentido sem você. E isso às vezes pode doer.

Por alguns instantes, em meio a tanto encanto, me pego em um momento de dor, quando lembro que, embora você ainda nem saiba disso, sua vida não pertence a este colo que te embala. Ou quando me dou conta que, em breve, você não caberá mais nesse corpo que por nove meses te abrigou. É o caminho natural da vida.

E, sabe, minha lição mais valiosa nesses 3 meses, é a de que nada pode ser mais gratificante do que a vida seguindo em frente, naturalmente. Simples assim. O resto é resto. Apenas detalhes que complementam aquilo que realmente importa: estar presente. Ser presente.

E assim você segue crescendo...

Hoje faremos nossa primeira viagem. Um marco. Mais uma celebração. O primeiro passo rumo ao mundo que tanto desejo te apresentar.

Ontem te matriculamos na escolinha. Começará apenas em janeiro, mas não deixa de ser mais um marco. E eu não vou chorar. Não vou sofrer. Faz parte do seu crescimento. Do seu desenvolvimento. Do caminho para a independência. Um caminho natural. Lembra? Nada pode ser mais gratificante do que, simplesmente, a vida seguindo o seu fluxo natural. Portanto, só me resta celebrar. Celebrar que você permanece seguindo o fluxo, se desenvolvendo, conquistando novas vitórias a cada dia, nesse árduo e prazeroso caminho que é crescer, para que, em breve, possa ser apenas você. Dono da sua vida, do seu destino, das suas escolhas.

Não será fácil, Caetano, mas, para mim, desejo apenas o desprendimento necessário. E, para você, saúde e o desejo constante de voar.

"Por ali, filho, naquela direção", ao encontro desse mundo imenso e cheio de oportunidades incríveis que eu tanto amo.