Trivial
Caetano,
Hoje vou tentar ser objetiva.
É que acabamos de voltar do nosso primeiro passeio de carrinho na Savassi e algo me incomodou.
Da outra vez fomos de sling. Tudo de bom! Você ama. Eu amo. Mas o sling não nos permite ver a vida por outro ângulo. O carrinho sim.
A rua estava cheia. Aquele movimento todo que eu adoro. Trabalhadores em seu horário de almoço. Estudantes celebrando a sexta-feira. E gente como a gente apenas passeando, vivendo a cidade como ela merece ser: vivida!
Um movimento normal. Feito por gente que leva uma vida normal. Coisa simples. Trivial. Sair de casa, ver vitrines, comprar um presente, se presentear. Tomar sorvete.
Entramos em quatro lojas e um prédio comercial. Todos com pelo menos um degrau de acesso. Nenhuma rampa. O jeito foi carregar o carrinho. Que sorte termos escolhido aquele modelo justamente por ser o mais leve. Em apenas uma loja o vendedor nos ajudou.
Nem tão simples assim, Caetano. Sair de casa, ver vitrine, comprar presente, tomar sorvete. Dá trabalho fazer coisas assim: triviais.
E, de repente, pude me ver no lugar do outro. Empatia, lembra? Me dei conta de que raramente vemos cadeirantes passeando pelas ruas de BH, levando suas vidas normais. Dá trabalho, Caetano. Desanima.
Me envergonho de não ter sequer notado isso antes. É que tudo era tão simples para mim. Era parte da minha rotina. Trivial.
Mas ainda dá tempo. Quem sabe para quando você crescer. O momento é mais que propício para pensar no assunto. É que semana que vem tem eleição. E eu ainda não sei o que cada candidato está propondo para tornar nossa cidade mais democrática. Porque a cidade tem que ser para todos.
E todos merecem ter prazer em fazer coisas tão simples.
Passear na cidade. Vida normal. Apenas o trivial.