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1 ano da melhor segunda-feira de nossas vidas

Caetano,


Parece que foi ontem. Parece que foi há um século. Já não consigo me entender muito bem com as diversas faces do tempo. Mas foi há exatamente um ano que você chegou em nossas vidas, depois de 4 meses de tentativas, uma viagem para São Paulo e um porre de despedida.


Sim, teve um porre de despedida. Uma tarde de muita caipiroska, cerveja, samba e amigos, que virou noite, madrugada, sanduíche podreira de garagem e ressaca de 2 dias. Sim, meu filho. Aos trinta e poucos o custo de um porre como aquele já é alto. Mas ele tinha que ter acontecido. E tinha que ter sido tão bom. Porque igual àquele, nunca mais. Aquela Flávia já não existe. Mas a memória dela não poderia ser melhor! Ela foi tudo o que era preciso para que estivesse pronta para a sua chegada.


E foi em uma segunda-feira, dia normal de corrida matinal, infinitas horas de trabalho e aulas noturnas de pós-graduação, que você chegou. Começar uma segundona dessas de ressaca não é nada fácil. Mas se teve uma coisa que aquele dia não foi, foi uma segunda-feira normal. Porque sim, até as segundas-feiras podem ser surpreendentes. Até as segundas-feiras podem se transformar no dia mais feliz de nossas vidas (até então).


Um dia de atraso apenas, Caetano. E algo que você já precisa aprender desde logo: sua mãe é ansiosa!!! Mas nada que você não possa aprender a lidar. Sabendo disso, era melhor não sair distribuindo expectativas por aí. A ansiedade é minha, afinal. Seria judiação dividi-la com o papai. E então, veio a brilhante ideia de comprar o teste no caminho para o trabalho, para que seu pai não pudesse desconfiar.


E você acha que uma mamãe ansiosa esperaria pra fazer o teste em um lugar mais reservado? Óbvio que não! Vai no banheiro do trabalho mesmo. Cheia de expectativas! E aí... o teste não funcionou!


Deveria aparecer ao menos uma listra ali, mas não apareceu nada. E dentre todas as micro possibilidades de um teste de farmácia não funcionar, aconteceu comigo. Só porque eu sou ansiosa.


Como eu não podia sair da empresa para comprar outro teste até a hora do almoço, tive a segunda ideia brilhante do dia: usar o teste novamente, duas horas depois. Ansiosa, lembra?!


E advinha? Positivo!!!!


Mas como eu poderia confiar em um teste reutilizado que já não tinha funcionado uma vez? (E por que que resolvi usá-lo de novo mesmo? Oi??? )

Não servia! Precisava de uma confirmação. Aí o tempo, em mais uma de suas facetas, a mais cruel, tratou de trazer a hora do almoço, cerca de três dias depois.


Corri para uma farmácia perto de um laboratório. Afinal, um segundo teste positivo precisaria ser confirmado por um exame de sangue (Tá bom, admito. O caso não é apenas de ansiedade ).


Obviamente que não dava pra esperar, então fui fazer o teste ali mesmo, no banheiro de um restaurante qualquer na Savassi. E aí... Negativo! Claro que um teste reutilizado que não havia funcionado de primeira não ia funcionar bem de segunda, né? Tão óbvio!!!


Tudo bem. Mês que vem a gente tentaria de novo.


Claro que não deixei a prova do crime no lixo do banheiro de um restaurante qualquer. Mamãe é discreta também. Ansiosa e discreta. E aí, depois do almoço, enquanto esperava o ônibus debaixo daquele calor escaldante que hoje se repete, sem nada pra fazer, resolvi dar uma olhadinha naquele pedacinho de plástico jogado na bolsa. E eu vi! Juro que vi!!! 40 minutos depois, sob uma luz do sol bem forte, ela estava lá. Quase apagada, mas lá. A tão sonhada segunda listra.


Mas é claro que uma listra tão apagada, depois de um positivo detectado por um teste que a princípio não funcionou, precisava de uma confirmação. E, afinal, o ponto de ônibus ficava em frente à farmácia.


É isso mesmo, meu filho. Melhor você já saber logo: ansiosa e louca! Ainda precisamos entender essa estranha mania do ser humano de duvidar da felicidade.


E, dessa vez, de novo no banheiro do trabalho, a cruz azul não deixava dúvidas: aquela não era só mais uma segunda-feira comum. Era a segunda-feira mais feliz de nossas vidas.



Mas calma. Seu pai também precisava saber da novidade. Só que mamãe é ansiosa, mas também gosta de fazer surpresas. Mais de fazer surpresas, na verdade. Por isso, bastava esperar as 853 horas daquela tarde passarem para poder ir ao shopping comprar o seu primeiro sapatinho. Uma notícia como essa não poderia ser dada de qualquer jeito.



E como valeu a pena guardar esse nosso segredinho ao longo do dia, Caetano. Eu deveria ter filmado a cara do seu pai ao abrir aquela caixa, só pra você saber como é a cara da felicidade. Sim, felicidade tem cara. E naquele dia se manifestou no rosto do seu pai, ao abrir uma caixa de presente e encontrar ali a melhor notícia que já havia recebido.


E foi assim que você chegou em nossas vidas, há exatamente um ano. Porque desde aquele positivo, você já se tornou presente.


E é claro que eu não poderia deixar de te contar como tudo aconteceu. A história de como uma pequena sementinha incapaz de ser vista até mesmo em um exame de ultrassom, já trazia em si o maior amor do mundo.


E na sexta-feira seguinte, você foi para o Jalapão.


Mas isso eu te conto depois

      Flávia Vilhena
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Sou a Flávia. Mãe do Caetano e do Augusto. Viajante, ex-blogueira (de viagem), advogada e agora escritora...

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