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De onde vem o encanto


Caetano,


"Benditas as coisas que não sei, os lugares onde não fui, os gostos que não provei".


Hoje você irá me compreender melhor.


Viajar.


Matar a saudade do que não conheço.


Essa é a parte de mim que não morre nunca.


E com você me redescubro em minha essência.


O que me move é essa curiosidade verdadeiramente infantil. Essa avidez pelo novo que você carrega constantemente em seu olhar.


Você ainda não precisaria saber disso. Mas, quando a gente cresce, a maturidade nos afasta desse sentimento de embriaguez pelas coisas que se apresentam diariamente diante dos nossos olhos.


É como se a rotina, a responsabilidade e o peso do dia a dia nos roubassem a inocência, nos roubassem o encantamento que até as coisas mais simples são capazes de provocar.


É preciso estar atento, ainda que tudo pareça cada dia menos surpreendente. É preciso continuar em busca daquilo que nos faz brilhar o olhar.


Viajando descobri uma forma de fazer isso. De manter viva a emoção da primeira vez. Viajando mato saudades de onde não estive. Viajando mato saudades daquele sentimento de entusiasmo diante do novo. Justamente o sentimento que hoje encontro em seu olhar.


Como disse em um devaneio antigo:


"É justamente esse frio na barriga, essa expectativa, essa ansiedade provocada pela primeira vez. É isso. Sou uma eterna apaixonada por primeiras vezes. E viajar sempre me proporciona algo novo. Certa vez li que as pessoas gostam de viajar porque uma viagem não se guarda na gaveta, não se possui. Você vai lá, vive, e volta. E por mais que queira viver tudo aquilo de novo, nunca mais viverá. Podemos até viajar de novo para o mesmo lugar, mas a viagem nunca mais será a mesma. Deve ser por isso que, mesmo depois de conhecer 51 países, a expectativa pelo próximo destino a ser descoberto é exatamente a mesma que senti aos 12 anos de idade, quando saí do Brasil pela primeira vez rumo a Nova York, para passar apenas quatro dias acompanhada da minha mãe. Naquela época, tudo foi um grande sonho. E, 30 anos depois, me lembro com exatidão de cada detalhe, de cada cheiro, de cada sensação... E desse delicioso frio na barriga que não deixa de me acompanhar a cada partida. É exatamente como disse Fernando Pessoa, no poema que hoje trago tatuado nas costas: "Sinto-me nascido a cada momento para a eterna novidade do Mundo...” Quando viajo, e um mundo completamente novo se abre diante de mim, sinto-me exatamente como se tivesse renascido. A expectativa e a curiosidade são como a expectativa e a curiosidade de uma criança. E como é bom voltar a sentir como uma criança. Tudo é mais intenso, mais mágico, mais forte."


Como você.


Como seu olhar.


Continuarei viajando, Caetano. Continuarei buscando.


Mas a satisfação de estar sempre descobrindo algo novo, hoje encontro no quarto ao lado. No seu olhar atento. No seu olhar de surpresa diante das coisas mais simples. Na pureza do sorriso de quem vê a vida da forma mais entusiasmada: na forma de uma criança. Sem saudades do que não se conhece. Porque tudo é novo. Tudo é incrivelmente encantador.


Tudo é vida!



      Flávia Vilhena
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Sou a Flávia. Mãe do Caetano e do Augusto. Viajante, ex-blogueira (de viagem), advogada e agora escritora...

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