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6 meses


Seis meses se passaram, Caetano.

Meio ano.


Um marco.


Você consegue se sentar sozinho. Interage como nunca. Já pode comer sólidos, passar filtro solar e repelente. Piscina e banho de mar já são permitidos. Você já viajou para fora do país. É o fim da licença maternidade. O início da escolinha... É como se você deixasse de ser um bebezinho e fosse promovido. Agora você é um bebezão. Meu bebezão.


É também, em teoria, o fim do período de aleitamento materno exclusivo.


Mas essa foto não é pra dizer que foram 6 meses de puro leite materno, como eu gostaria.


É que desde os 4 meses precisamos introduzir o leite artificial na sua alimentação. Você tinha voltado a ganhar muito pouco peso, muito abaixo do mínimo esperado.


E por mais que eu viesse me preparando para isso, foi difícil aceitar. Até hoje ainda é.


Eu acreditei que se o aleitamento materno exclusivo era o melhor para você, era assim que iria ser. Fui levada a crer que não havia chance de dar errado. Se toda mulher é capaz de produzir leite suficiente para seu bebê, era óbvio que por aqui não seria diferente.


Mas as coisas não são bem assim, Caetano. Não são simples. Não são matemáticas. Existe sempre aquilo que é o melhor para a média. Mas também existe sempre aquilo que é o melhor para a gente.


Porque não existe toda mãe. Nem todo bebê. Existe cada mãe. Cada bebê. E existe o que é melhor para cada um de nós.


E se o aleitamento exclusivo não funcionou para nós dois, mesmo após tanta vontade, tanta dedicação e tanta insistência, só me resta celebrar a existência da indústria alimentícia e da tecnologia, por conseguiram produzir o leite ideal para você. Porque na amamentação, assim como no parto, vale o que é melhor para cada mãe e para cada bebê. E quando a tecnologia vem para nos salvar, para melhorar, ela é mais do que bem-vinda.


Ainda fico tentando entender porque isso me incomoda tanto, além do fato de ser chato pra caramba todo o processo de preparar e limpar mamadeiras. Afinal, apesar da não exclusividade, você continua mamando e o leite materno continua sendo sua principal fonte de alimento. Além disso, finalmente você passou a ganhar o peso necessário, embora continue magrinho, do jeito que você é.


Acho que é porque ainda tenho dificuldades em aceitar o maior de todos os aprendizados da maternidade, o mais dolorido: o da total ausência de controle.


Somos criados com a doce ilusão de que temos o comando de nossas vidas. Mas a verdade é que tudo o que é natural está fora do nosso alcance. Não temos controle sobre nossos filhos e muito menos sobre nosso próprio corpo. Não temos controle sobre a natureza e nem mesmo sobre a vida. E apesar das inúmeras provas que tive disso nos últimos 6 meses, continuo hesitando em aceitar.


Talvez você possa sofrer menos com isso se souber desde já que não basta vontade, persistência, disciplina, paciência ou dedicação quando não somos nós quem estamos no comando. Que a vida anda por conta própria, que somos animais e que nossos corpos são comandados pela natureza.


Podemos intervir, tentar, fazer a nossa parte, mas, no fim, quem manda não somos nós.


Compreender isso é fundamental para vivermos com a leveza que a nossa finitude exige de nós.


Não existe nada que possamos fazer para garantir que alguma coisa irá sair exatamente do jeito que queremos. Não podemos sequer garantir o dia de amanhã. E ponto final.


Para mim tem sido um aprendizado e tanto. Um aprendizado difícil, como todo aquele que chega para mudar radicalmente nossas crenças.


Por isso, a partir de agora, nos proponho a viver aceitando o presente que é simplesmente estarmos vivos, com nossos corpos saudáveis, em um mundo pronto para nos auxiliar naquilo que não dermos conta sozinhos.


Me sinto imensamente feliz em te amamentar e te nutrir nesses 6 meses, com todo o amor e carinho que não cabe dentro de mim.


E que venha o próximo desafio, que é conciliar a amamentação com o retorno ao trabalho. Esse será ainda mais difícil. Mas, com aceitação e leveza, estaremos prontos para o resultado que vier.

      Flávia Vilhena
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Sou a Flávia. Mãe do Caetano e do Augusto. Viajante, ex-blogueira (de viagem), advogada e agora escritora...

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