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A dor da separação


Caetano,


Hoje meu coração ficou pequeno. Um frio na barriga que não me largou. E nem era ansiedade gostosa, embora fosse mais uma primeira vez.


Justo comigo, que costumo apreciar tanto as novidades.


Essa não.


Pela primeira vez passamos um dia inteiro longe um do outro. Um dia longo, ocupado por atividades infinitas. Uma tentativa de fazer o tempo passar depressa. Até deu certo. Mas entre inúmeros compromissos e um ir e vir sem fim, minha cabeça não saiu do lugar.


Meu coração ficou com você.


Acho que será assim por um bom tempo, não é mesmo? Meu coração fora de mim. Eu vou. Ele fica com você.


Ao contrário dos outros dias, hoje você me pareceu tristinho. Espero que ainda seja efeito da vacina. Porque pior que sofrer é ver filho sofrendo. Mais um aprendizado doído da maternidade.


O retorno ao trabalho é só amanhã, mais uma novidade. Mais um frio na barriga. Mas precisávamos desse teste. Precisávamos preparar o coração que não mais me pertence.


Que bobagem essa história de preparação.


O coração ficou em pedaços.


Mais ainda quando recebi da escola aquela foto em que você brincava com papéis coloridos. Era para me tranquilizar. Olhei para ela por alguns minutos. Chorei.


Não há preparação para esse momento. A gente pensa que está pronto, mas, quando chega, dói. A dor da separação.


Dizem que com o tempo a gente se acostuma com ela. Continua doendo. Mas a gente aguenta.


E já que não tem outro jeito, vamos despreparados mesmo.


Mas quer saber o que ajuda?


Ajuda chegar na escola e te ver abrindo os bracinhos junto com um sorriso largo assim que me vê. Ajuda sentir você se encaixando perfeitamente no meu colo, que nem peça de quebra-cabeça. Ajuda o olhar doce e o abraço apertado. Até seu chorinho não querendo desgrudar mais de mim ajuda. Ajuda te amamentar ao chegar em casa e sentir um vínculo único. Ajuda pensar que todo esse sofrimento é em função de um vínculo único. Ajuda te ver adormecer ao meu lado e velar o seu sono. Observar os seus cílios longos, a sua boquinha desenhada, a tranquilidade dos sonhos de quem se sente seguro.


E se te deixar todos os dias pela manhã irá doer, te pegar de volta todos os dias pela tarde será minha maior alegria.

      Flávia Vilhena
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Sou a Flávia. Mãe do Caetano e do Augusto. Viajante, ex-blogueira (de viagem), advogada e agora escritora...

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