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Dor e delícia


Caetano,


Foto antiga. Palavras novas. Enferrujadas, mas novas.


Elas já não fluem como antes. Resultado de uma desconexão que a correria do dia a dia provoca em mim. Eu já previa que seria assim, mas ainda sofro com isso, justamente por ter gostado tanto daquilo que encontrei nos últimos meses. Muita gente por aí entende o que eu quero dizer. E muitos se inquietam com isso. Uns menos, outros mais. Inspirações para mim.


Hoje você faz 8 meses. Mas vou me permitir falar sobre isso depois.


Porque hoje também é o dia das mulheres. E essa semana uma mulher muito engajada, que dedicou sua vida a lutar pela felicidade e pela liberdade de outras mulheres, me fez lembrar dessa foto tirada há quase 2 meses, propositalmente para ilustrar um texto que nunca foi escrito. Ficou para lá, junto com aquela Flávia que por um tempo pôde se concentrar apenas naquilo que é essencial.


Antes de tudo, quero te explicar uma coisa, e o momento me pareceu mais do que oportuno.


Sempre me perguntam se o seu nome é uma homenagem. Não. Mas seu xará famoso contribuiu, e muito, para que Caetano soasse, para mim, como o nome mais bonito do mundo. É que Caetano soa como poesia em meus ouvidos. Carrega uma melodia doce, delicada, e, ao mesmo tempo, uma força estrondosa, única.


Exatamente como você.


Exatamente como a frase da foto:


“Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é.”


E para que não reste dúvidas, eu diria mais: apenas cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é. Porque, no fundo, no fundo, estamos sozinhos. Somos, nós mesmos, os únicos responsáveis por aquilo que sentimos.


Seu xará sabe o que diz, Caetano.


É que, por mais verde que pareça a grama do vizinho, você nunca saberá verdadeiramente o que se passa dentro da sua casa.


Aliás, acabo de me lembrar sobre o que era o texto que nunca existiu. Algo sobre comparações, inspirado em outra frase que havia lido recentemente na Internet: “comparação é o ladrão da felicidade”. É sim. Seria ótimo se pudéssemos viver livre dela.


Mas esta frase do Caetano é maior do que isso (sem entrar no mérito da composição completa, super apropriada para o dia de hoje, diga-se de passagem).


É sobre como essa dualidade, dor e delícia, é inerente à nossa natureza.


E também sobre como, no fim das contas, estamos sozinhos com ela.


É preciso lidar com isso, por mais difícil que às vezes possa parecer.


E como é difícil ser dor e delícia em um mundo que exige de nós nada mais, nada menos, que a perfeição.


Como é difícil ser dor e delícia em um mundo de aparências, sem tempo para conversas francas e profundas.


Como é difícil ser dor e delícia em um mundo onde ela, a dor, não é bem-vinda.


E como é difícil ser dor em tempos de Facebook, onde sorrisos brotam de todos os lados nos lembrando sobre o quão deliciosa é a vida.


E como é fácil ser apenas delícia em tempos de Facebook, onde a grama pode ser facilmente mantida verde, encobrindo essa dualidade que nos é tão natural.


Mas é do lado de dentro, Caetano, que está o que realmente importa.


Portanto, nunca deixe de olhar para dentro. Olhe buscando o verdadeiro sentido da vida: ser feliz. Mas não ignore as dores essencialmente humanas. Cuide delas. Exponha-as. E olhe para o outro se lembrando de que ali também residem dores e delícias muitas vezes inalcançáveis. Mas olhe com amor. Com compaixão, empatia e generosidade. Pois só assim podemos dividir nossa essência, aquilo que realmente importa. Só assim podemos compartilhar verdadeiramente o nosso melhor e o nosso pior, com toda a imperfeição inerente à nossa espécie de mente tão complexa e de sentimentos em turbilhão.


E assim, quem sabe, ficará mais fácil lidarmos, cada um, com as dores e a delícias de sermos quem somos.

      Flávia Vilhena
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Sou a Flávia. Mãe do Caetano e do Augusto. Viajante, ex-blogueira (de viagem), advogada e agora escritora...

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