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9 meses



18 meses se passaram, Caetano.


Há 18 meses você me preenche.


Por 9 meses você preencheu meu corpo, meus sonhos e minha mente.


Mas, contraditório ou não, foi quando deixou de ser uma parte de mim que você preencheu efetivamente cada espaço da minha vida.


Desde então, 9 meses de passaram. E, pra variar, estou atrasada.


É que meu tempo, que já era escasso, também foi preenchido por você.


Certa vez consultei uma terapeuta sobre a decisão de ter filhos. Eu disse que não via como encaixar uma criança na minha vida tão corrida. Ela me disse que não havia como planejar isso. Que as coisas se encaixam naturalmente.


Ela tinha razão. Impossível planejar isso.


Deveria ser uma equação matemática simples. Daquelas que a gente aprende na escola. Um recurso limitado X, menos um gasto ilimitado Y não pode ser menor que zero. Impossível, não é mesmo? Dessa forma, não temos alternativa a não ser escolher. Limitar a imensa lista de tarefas e papéis que consomem desenfreadamente essa preciosa variável chamada tempo.


E como fazer isso?


Ninguém ensina.


Sobre esse ponto aquela terapeuta não tinha razão. As coisas não se encaixam. Não de forma tão simplista. Podemos até desafiar as leis da matemática e da física e provar para o mundo que é possível, sim, transformar o tempo em um recurso ilimitado. Mas o custo disso é alto.


Hoje você faz 9 meses e não era bem sobre isso que eu gostaria de falar. Queria falar sobre como suas gargalhadas andam gostosas, sobre como você engatinha desenvolto pela casa, curioso por descobrir surpresas em cada cantinho desse ambiente tão conhecido e ainda tão pouco explorado. Queria falar sobre como foi difícil, e ao mesmo tempo tão importante, estar longe de você pela primeira vez. Ou sobre o imprevisto de comemorar mais um mês na companhia de mais uma febre, mas também sobre como, aos poucos, vamos aprendendo juntos a lidar com esses percalços inerentes à uma infância saudável.


Mas veio essa história de matemática do tempo e roubou também a minha inspiração. E dói ver minha criatividade sendo absorvida por essa rotina tão massacrante. Se temos que fazer escolhas, que não seja cortando a poesia. Para alguns pode parecer supérfluo. Para mim, é o essencial.


Por isso hoje acordei paralisada. Absorvida pelo desespero de ver uma lista infinita de afazeres que não para de crescer. Deixei tudo de lado e vim aqui fazer aquilo que me faz bem: escrever. Em um primeiro momento, porque essa também era uma obrigação, afinal, há 9 meses escrevo para você no seu mesversário. Mas depois, avaliando de forma mais clara, porque me dei conta de que não posso me afastar daquilo que realmente me faz bem.


Cortar a poesia não é uma opção.


E pela manhã, encaixando como uma luva para esse momento, me deparei com essa imagem. Nela me encontrei como poucas vezes nos últimos tempos. E pude descobrir que estou naquela fase de querer jogar todos os pratos para cima e sair correndo.


Mãe também tem disso.


Mas pode ficar tranquilo, Caetano. Se um dia isso acontecer, te levo junto.


Podemos sair correndo, eu e você, para um mundo onde o tempo continue restrito, mas onde seja possível administrá-lo da forma simples, como sugerido por aquela psicóloga. Sem que para isso seja preciso nos transformarmos em super-heróis ou equilibristas dignos do Cirque du Soleil. Sem que para isso precisemos viver com aquela sensação de estarmos apenas passando pelas horas, cumprindo os obstáculos como se conseguir dar um check no maior número possível de tarefas e obrigações fosse o objetivo maior de nossas vidas.


E afinal, escrevendo, pude, por alguns minutos, jogar todos os pratos para cima, sem que nenhum deles se quebrasse.


Por hoje é apenas sobre isso que eu conseguiria falar. Sobre uma maternidade real, que as vezes tira a gente do eixo, porque também somos falíveis.


Por isso hoje, no seu dia, falo sobre mim e não sobre você. Porque para manter tantos pratos intactos preciso, antes de tudo, estar bem. Lúcida e bem.


E assim vamos seguindo em frente. Pelo menos com a consciência de que algo precisa ser mudado. Já é um primeiro passo. E a maior inspiração para fazer as coisas fluírem de forma mais harmoniosa eu já tenho.


Há 18 meses, minha inspiração na busca por uma vida melhor: você.

      Flávia Vilhena
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Sou a Flávia. Mãe do Caetano e do Augusto. Viajante, ex-blogueira (de viagem), advogada e agora escritora...

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