A grande escola da maternidade
O nascimento nunca é de uma vida só. Ao mesmo tempo em que nasce um filho, morre um pouquinho e (re)nasce também uma nova mulher. A experiência de tornar-se mãe é uma das mais ricas e transformadoras que existem e isso é só o começo.
Uma mulher que se torna mãe adquire conhecimentos, competências e habilidades que nenhuma escola é capaz de entregar. É que poucos ensinam tão bem como as crianças. Ensinam os valores mais celebrados pelo mercado. Dão aulas sobre aceitação, resiliência, criatividade, flexibilidade, desenvoltura e sobre mais um monte de coisas que não se esgotam nunca. Maternidade é uma escola diária. Maternidade é uma escola foda. Mas, apesar de toda a riqueza que é tornar-se mãe, metade das mulheres são desprezadas quando isso acontece.
Segundo dados da FGV, 48% das mulheres são demitidas após retornarem de licença maternidade. 48% das mulheres são descartadas por cometerem o erro de se tornarem mães. 48% das mulheres são excluídas, porque ainda se credita exclusivamente a elas o trabalho de cuidar.
Cuidar.
Qual o papel do cuidado em nossa sociedade?
As empresas exigem profissionais cada vez mais qualificados. Fala-se incansavelmente em soft skills, domínio das emoções, desenvoltura, comunicação eficaz, autoconfiança... E de onde vem toda essa qualificação?
Vem do cuidar.
É na primeira infância que se forma a base de um futuro brilhante. Sem cuidado não há adulto de sucesso. E eu sonho todos os dias com o momento em que o cuidar passe a ser visto como uma função nobre e valorizada.
Se a nossa sociedade entendesse o verdadeiro papel do cuidado, se entendesse que o futuro da humanidade está nas mãos de cada criança que nasce (e consequentemente de cada um que cuida dela), maternidade valeria mais do que mestrado.
E vejam que curioso. É justamente isso o que acontece em relação à paternidade.
Uma pesquisa do Boston College Center for Work and Family detectou que, enquanto 48% das mulheres são demitidas por se tornarem mães, a maioria dos homens acredita que a paternidade tem relação direta com a sua ascensão na carreira.
Um homem que se torna pai torna-se também, perante a sociedade e perante o mercado, mais maduro, responsável e digno de um salário melhor.
Sim, enquanto mulheres são demitidas por tornarem-se mães, homens são promovidos por tornarem-se pais.
Dois pesos, duas medidas.
Valores invertidos.
Por isso digo e repito: enquanto o homem não entender a importância do cuidar, enquanto o homem não ocupar esse espaço, não alcançaremos a igualdade que tanto almejamos.
Porque se homem fosse mãe, ahhhh se fosse...
Se o homem fosse mãe, maternidade valeria mais do que mestrado.
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