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A resiliência dos Ipês

Descobri hoje que existem em BH 29.000 ipês colorindo a cidade. Eles estão incríveis!!!


Eu amo ipês.


Desde que os notei, não me lembro quando, aguardo ansiosa pelo período de sua floração.


Essa conexão se tornou mais forte quando Caetano nasceu, no ápice da florada de 2016. Ele era um bebê do tipo que se diz preguiçoso... Não queria nascer por conta própria no tempo que se diz normal. E eu? Andava, andava, andava sem parar pela cidade. Já de licença, sem nada para fazer a não ser esperar, eu fazia o que diziam que podia ajudar na aceleração do parto: caminhar.


Um dia antes de fazer 41 semanas, com a indução marcada para dois dias depois, fui caminhar. No dia 7 de julho, andei por duas horas apreciando os ipês da Praça da Liberdade em seu mais extraordinário esplendor. E me encantei mais ainda pela sua beleza.


Postei essa foto e escrevi:



“Trouxe Caetano para conhecer os ipês, para ver se, quem sabe assim, ele se anima a vir conhecer a poesia da vida.”


E ele veio. Poucas horas depois, natural e rapidamente, na madrugada do dia 8, inspirado pelo inverno cor de rosa e enchendo de poesia cada cantinho da minha vida.


Todo ano, desde então, saímos para ver os ipês.


Menos em 2020, quando, trancafiados em casa pelo Coronavirus, não pudemos ver a beleza dos ipês.


Em 2021, de PFF2, me permiti vibrar com o espetáculo cor de rosa que colore o friozinho de BH, esse ano um pouco mais intenso que o normal.


E pela primeira vez me questionei: Por que será que os ipês florescem em pleno inverno?


A resposta não podia ser mais surpreendente: o stress do bem.


Os ipês precisam do stress e do sofrimento provocados pelo frio e pela seca para florescer.


Após perder todas as suas folhas, a árvore entende que está prestes a morrer. E na luta pela sobrevivência da espécie, despende todo o resto de energia que lhe resta para produzir o máximo possível de sementes para se reproduzir. E floresce! Lindamente.


Pura biologia.


Ou seria poesia?


Por força do acaso, ou de algo mais poderoso que não sei bem o que é, dois dias antes de conhecer a resiliência dos ipês eu havia assistido a uma aula do pesquisador americano Paul Zak. E que aula! Nela o professor ensinava sobre ocitocina, molécula mais conhecida pelo seu papel no parto, na amamentação e no sexo, mas que está também por trás da moralidade, da empatia e, como o professor sugere, da própria natureza social humana. Resumidamente, sem ocitocina não teríamos alcançado o sucesso biológico da nossa espécie, que só sobrevive graças à coesão social.

É como se a ocitocina fosse nossa flor cor de rosa. Nossa última cartada para termos sucesso contra todos os agressores a que estávamos sujeitos em um ambiente totalmente inóspito para os seres humanos. Alguns seres humanos, sozinhos ou em pequenos grupos, não teriam chegado em lugar nenhum. Mas milhões de seres humanos juntos se transformaram em uma das espécies mais bem-sucedidas do planeta, apesar de toda a sua fragilidade biológica. Como um ipê, que entende que somente muitas e muitas flores poderão fazer o próximo verão.

Curiosamente, a ocitocina, assim como os ipês, também precisa de um certo stress para ser liberada. Como diriam os sábios populares: mar calmo não faz bom marinheiro. Mas o mar também não pode matar o marinheiro. O que me faz lembrar de Aristóteles e de sua teoria sobre a virtude. Equilíbrio é tudo! E até o stress, com equilíbrio, é necessário. Isso só não vale para a ocitocina. No caso dela, quanto mais melhor. Porque ocitocina é amor. E o amor é mais virtuoso que o equilíbrio em si. É o que o nosso mundo precisa para seguir sobrevivendo.


Que nesse longo inverno que já dura 18 meses, possamos então florescer no amor.


Como as flores dos ipês. Unidos. Quanto mais, melhor.






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      Flávia Vilhena
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Sou a Flávia. Mãe do Caetano e do Augusto. Viajante, ex-blogueira (de viagem), advogada e agora escritora...

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