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A tal capa da Forbes


Chegou aquele momento do ano em que todo mundo quer fazer uma retrospectiva. Mas como falar de 2020 já virou assunto batido, a minha será sobre um tema pré-pandemia: a capa da Forbes de março, que celebrou o mês das mulheres exibindo uma barriga para lá de poderosa. A capa é linda e emblemática e foi compartilhada de forma entusiasmada por muitas e muitas mulheres. Por isso custei a admitir: eu não gostei da capa da Forbes. E nove meses depois, tempo suficiente para muitas mulheres terem dado à luz, os dados apenas reafirmam essa minha convicção. Uma revista essencialmente masculina, de um nicho ainda predominantemente masculino, trouxe na capa uma mulher de sucesso grávida, para, somente em 2020, enaltecer aquilo que já estamos cansadas de saber: nós damos conta! Mas às custas de que? Só nós sabemos o peso que é equilibrar tantos pratos, nessa luta por ocupar papeis que antes eram destinados somente aos homens. Nós somos fortes, a gente comprou a luta, e conseguimos finalmente provar que sim, somos capazes, embora ainda haja um longo caminho a ser percorrido, já que, apesar da bela foto, os números mostram que ser demitida após a gestação ainda é a realidade da maioria das mulheres no país. Isso sem contar as diferenças de salário, a baixa representatividade nos altos cargos de gestão etc. Mas e os papeis historicamente reservados só às mulheres? Esses continuam exatamente assim: intocados. E o resultado é, obviamente, uma sobrecarga desumana, cujo peso se torna cada dia mais difícil de suportar. No mesmo mês de março, uma pesquisa divulgou que a maioria dos homens acreditava ser possível equilibrar a vida familiar com uma carreira de sucesso. Mulheres discordavam. Por que será que os homens são tão mais confiantes assim? Que dá para fazer tudo enquanto os homens seguem fazendo só a parte deles, dá. Mas o custo é alto, muito alto. Prova disso é o resultado de qualquer pesquisa de análise econômica da pandemia, que demonstra que as mulheres foram as mais impactadas profissionalmente pela crise do coronavirus. Algumas publicações falam em décadas de retrocesso nas conquistas femininas. Por isso só ficarei feliz de verdade quando a capa da @forbesbr for um CEO embalando seu recém-nascido. Quando os homens finalmente entenderem que conciliar carreira e paternidade é não apenas possível, como eles ousam afirmar, mas uma agenda urgente para que possamos, enfim, alcançar um verdadeiro senso de justiça nessa relação. Não precisamos apenas de mais mulheres ocupando posições de poder. Para alcançar a verdadeira equidade de gênero, precisamos é de mais homens ocupando o espaço doméstico. Para 2021, além da vacina, desejo que possamos dar mais alguns passos nessa luta tão cara.

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      Flávia Vilhena
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Sou a Flávia. Mãe do Caetano e do Augusto. Viajante, ex-blogueira (de viagem), advogada e agora escritora...

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