Afinal, como anda o copo?
Hoje antecipamos a caça aos ovos por aqui. Uma mistura de falta do que fazer com a tentativa de manter os excessos da páscoa no fim de semana, já que, no nosso combinado, doces são permitidos somente nos “dias da família”.
E assim, mesmo com o caos lá de fora, aqui dentro tivemos uma manhã leve, divertida, cheia de magia e, obviamente, doce.
Isso me fez pensar sobre quarentena com filhos. Tudo pode ser visto por diversos ângulos. Aquela velha história do copo cheio ou vazio. Em relação ao isolamento com crianças não seria diferente.
Ouso dizer que, no privilégio de ficar em casa, poucos estão sofrendo como os pais de filhos pequenos. Ter uma criança ao seu lado 24 horas por dia dificulta muito essa história de não poder sair de casa. Por outro lado, poucos têm um combustível tão eficiente para seguir em frente como os pais de filhos pequenos. É que, além de encher a rotina de caos, eles também fazem transbordar o sentimento de sentido. E como é mais fácil seguir firme quando se tem um porquê tão valioso.
Dentre todos os meus privilégios, talvez o maior de todos seja justamente a oportunidade de receber tantos sorrisos puros ao longo do dia, o primeiro logo ao acordar, digo, logo ao ser acordada. Ou o grande privilégio seria a chance de ser coberta de abraços e beijos melados no meio de um dia intenso de trabalho? Quem sabe a oportunidade de encher duas pequenas fofuras de beijos e abraços às quatro da tarde? Ou a alegria de poder esquecer um pouquinho tudo o que acontece lá fora, procurando ovinhos deixados pelo coelho?
Tudo isso me fez lembrar de uma frase impactante da @rafaelacarvalhoescritora:
“Você já enfrentou o fim de um mundo sem o amor de um filho? É vero que filhos nos viram de ponta-cabeça. Mas também é verdade que durante um terremoto pode ser maravilhoso não estar com os pés no chão.”
E hoje de manhã me senti assim. Flutuando. Leve. Feliz.
É claro que nem sempre é possível ver as coisas por esse ângulo. Meu copo enche e esvazia várias vezes, o tempo todo.
Tem dias que eu só penso em como seria mais fácil passar por tudo isso sem filhos pequenos. Tem horas que eu só quero fugir (e chego a fazer planos reais de fuga, que envolvem sair correndo de forma cinematográfica, gritando feito louca pela rua). No minuto seguinte, eu simplesmente me entrego ao amor sem limites e à inocência desses dois serezinhos em miniatura. Nesses momentos, são eles quem me pegam no colo. Me transformam em uma gigante. Me dão uma força capaz de mover montanhas, capaz até de enfrentar de frente o maior desafio de nossas vidas: lidar com esse terremoto de magnitude até então desconhecida, causado por um mísero e invisível vírus.
E assim eles me ajudam a seguir. Com firmeza e com leveza. Com um amor e com um propósito inigualáveis. Forte, mas sem perder a alegria, o afeto e a delicadeza.
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