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Educação respeitosa



Existe um senso comum de que as crianças de hoje são criadas cheias de vontade própria. Bem, é mais ou menos isso. Eu diria que elas são criadas cheias de respeito à sua individualidade. Isso quer dizer que elas são reconhecidas como sujeito, o que é realmente coisa muito recente na história da humanidade. Se até muito pouco tempo a criança não tinha direito de dar palpite, a uma piscada de história ela não tinha direito sequer de ser criança. Em períodos não muito remotos, crianças eram tratadas como adultos de menor valor, podiam inclusive trabalhar como um. Os tempos mudaram, a gente foi evoluindo... E eu sou daquelas que acredita que evolução é uma coisa sem fim: sempre tem alguma coisa que dá pra melhorar.

Pois bem, outro dia vi alguém questionando o que será dessa nova geração de crianças que têm direito de ouvir, no carro dos pais, as músicas que gosta. Porque, afinal, a gente nunca teve direito de escolha e, bom... sobrevivemos.


Não vou entrar no mérito de qual seria o problema de deixar a criança curtir uma música no carro, até porque no meu quem escolhe as músicas sou eu. Além disso, sou extremamente grata ao meu pai por ter feito o mesmo, já que foi provavelmente aí que começou minha paixão pela música (infância regada a Jovem Guarda e Rita Lee, Beatles e Raul, me dei bem!).


O que fiquei pensando com essa história é no nível de satisfação que temos com essa geração de adultos atuais, que não tinha direito de dar palpite em nada, nem na música que tocava no carro da família. Além de sobreviver, será que a gente cresceu bem? Porque o que eu estou vendo é um completo desastre político, social e cultural, sendo gerido justamente por nós, alecrins dourados da boa criação, que não ouvíamos música de criança no carro, que assistia Xuxa metade do dia e apanhava por puro merecimento. E aí, inevitavelmente, me lembro daquela frase que não é do Einstein, mas eu também não sei de quem é, de que loucura é fazer as mesmas coisas esperando resultados diferentes.


Bom, eu não sei se a fórmula é deixar os filhos ditarem a trilha sonora, nem sei se o respeito à criança é a solução, o que eu sei é que não há nenhum indício de que nós, adultos desses tempos muito insanos, somos o melhor modelo de sociedade a que podemos chegar. E se alguma coisa precisa melhorar, outras necessariamente precisam mudar. Acredito firmemente que o segredo está na criação. Mais uma vez, repito: garantia que dará certo? Não temos. Certeza de que estamos tentando o melhor? De sobra!


Tudo isso me faz refletir sobre como nos acostumamos com padrões socialmente construídos, a ponto de pensar que eles são naturais e inquestionáveis. Então porque um dia alguém inventou que a criança é um mini monstro a ser domesticado, seguimos acreditando fielmente nisso, negando a máxima de que as crianças são nosso futuro, e que nós nada mais somos do que crianças carregadas de histórias, vícios e traumas. Assim como nossos pais, crianças como nós, exatamente o que nos tornamos quando crescemos (impossível não lembrar de Legião), todos, independentemente da idade, humanos em evolução. Alguns piores, outros melhores, mas, sem vícios, somente os menores, em quem aposto todas as minhas fichas para uma geração melhor e mais saudável que a nossa.


Precisamos urgentemente parar de odiar as crianças porque odiá-las é odiar o nosso melhor.

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      Flávia Vilhena
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Sou a Flávia. Mãe do Caetano e do Augusto. Viajante, ex-blogueira (de viagem), advogada e agora escritora...

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