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Existe vida fora das redes sociais?



Hoje quero provocar algumas reflexões sobre esse espaço aqui. Uma ferramenta maravilhosa, da qual sempre fui entusiasta, e que uso há bastante tempo, desde uma época em que este era um território muito mais amigável. É uma ferramenta que dá voz a qualquer pessoa, que democratiza a opinião, a arte e o comércio.


Mas será mesmo?


Após o fim do meu blog de viagens, passei um bom tempo utilizando as redes sociais apenas como espectadora. Ano passado voltei a utilizá-la como produtora de conteúdo e fiquei impressionada com o rumo que as coisas tomaram por aqui.


Por que falo disso hoje? Em razão de duas coisas que aconteceram nos últimos 7 dias.


Primeiramente, tomei coragem e mandei dois projetos de livros infantis para uma editora. Uma editora de autopublicação, o que quer dizer que eu pagaria por TODOS os custos do livro. Eu não tive a chance sequer de saber se o meu material é bom ou ruim, porque, pelo que compreendi da resposta (veja na foto), para ser um escritor (auto)publicável é preciso, antes de tudo, ter um público já formado nessa rede social. Confesso que não é apenas frustrante. É assustador. É assustador saber que a vida on line é quem dita os rumos da vida off line.


É a vida, eu sei. Quem quiser que se acostume. Já entendi que se eu realmente quiser escrever, antes de desenvolver meu talento como escritora, precisarei desenvolver minhas competências em marketing digital e arcar com todas as consequências da minha presença profissional nas redes (que são muitas). E salve-se quem puder.


Corta para hoje.


Uma profissional super competente, que usa essa rede não apenas para promover o seu trabalho (afinal, quem não está aqui não existe), mas também para levar uma mensagem de suma importância para a sociedade, teve sua conta hackeada. Ela tinha 14 mil seguidores, mas, muito mais do que isso, eram anos de trabalho duro e de um conteúdo valioso... Perdidos! Esse é um problema relativamente comum por aqui. E sabe o que a plataforma faz para ajudar pessoas que sofrem com isso? Muito pouco. Às vezes nada. Funciona mais ou menos assim: você dedica tempo produzindo conteúdo, a plataforma enriquece e você se f***.


Nosso tempo é o que existe de mais valioso no mundo atual. E são 100 bilhões de horas do mundo gastas diariamente aqui. E nenhuma dessas 100 bilhões de horas é remunerada diretamente por quem mais lucra com tudo isso: o próprio Instagram.


Em troca, a ferramenta ajusta os seus algoritmos diariamente para fazer o que? Exigir que a gente passe cada vez mais tempo aqui, seja para dar uma mordidinha nesse bolo que não para de crescer, seja apenas por diversão. E quanto mais tempo passamos aqui, menos tempo temos disponível para a vida off line e mais dinheiro eles ganham. De forma bem clara: damos o nosso tempo de graça (ou em troca de alguma diversão e, quando muito, de uns pequenos trocados) para o Instagram, que o vende mais caro que ouro.


E aí? A gente pode só fechar os olhos e consentir, dizer que essa é a nova ordem das coisas e que quem não se adaptar vai ficar para trás e pronto acabou. Ou a gente pode debater o assunto e tentar transformar o uso das redes em algo mais saudável e socialmente mais responsável. Porque isso aqui não é brincadeira.


Redes sociais estão ditando os rumos profissionais, econômicos e políticos do mundo. Esse espaço que nasceu como suposta ferramenta de lazer é capaz de derrubar uma democracia.

E ele tem dono. Poucas pessoas estão por trás de impérios intangíveis capazes de transformar profundamente toda a sociedade. É muito poder nãos mãos de muita pouca gente. E a responsabilidade é deles, assim como de cada um de nós. Por isso é preciso refletir e, se necessário, resistir.


Faço um apelo então: você, que usa essa rede, seja como produtor de conteúdo ou espectador, experimente tirar algumas horas da atenção que você gasta aqui para estudar um pouco sobre o assunto. Existem pelo menos dois documentários essenciais para qualquer usuário de redes sociais: Fake Famous e O dilema das redes, além de muitos livros e alguns perfis dispostos a discutir o tema.


Não é para parar de usar. É para saber exatamente onde estamos pisando. E usar com a consciência que essa poderosa ferramenta exige. Ela é incrível sim. Mas para usufruir de seus benefícios com sabedoria é bom que esteja claro: por aqui, todos nós não passamos de meras commodities.




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      Flávia Vilhena
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Sou a Flávia. Mãe do Caetano e do Augusto. Viajante, ex-blogueira (de viagem), advogada e agora escritora...

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