O afeto cura

O afeto cura.

Está comprovado cientificamente por experimentos diários praticados em uma casa em quarentena.

O afeto cura.

Cura todos os tipos de dores. As do coração e as do corpo.

Alguns adultos insistem em não acreditar. Sábias as crianças, que se permitem serem curadas por um simples abraço. Que compreendem o grande poder de um beijo.

Na semana passada, um pequeno acidente doméstico comprovou: beijos são 100% eficazes contra cortes e luxações. A tampa bastante pesada de um baú de madeira fechou de uma vez em cima do pequeno polegar do Augusto. Um urro instantâneo de dor invadiu o apartamento inteiro. O inchaço foi imediato. Corri para pegar o gelo enquanto o bebê esgoelava. Sentia em mim a sua dor. Sentir a dor do outro. Coisa que as mães fazem como ninguém.

Ao colocar o gelo, vi o sangue. Tentei não desmaiar, porque sim, sou dessas. A pancada foi tão forte, que a madeira cortou a parte interna da mãozinha. O choro era alto e sentido. As lágrimas escorriam, se misturando ao suor que brotava do esforço que era colocar para fora uma dor daquele tamanho. O rosto vermelho de tanto chorar. Me sentei no sofá para tentar dar o peito. O peito sempre funciona. Não funcionou. A boquinha precisava estar livre para extravasar o susto, a dor, o desespero. E em meio aos gritos de "(ma)chucou", ao choro alto, e às lágrimas que rolavam sem parar, um suspiro e um pedido:

"Beijo".

Não dava para ser mais simples e mais fácil. Pedido atendido. Ele virou a mãozinha do lado do corte:

"Mais beijo".

Dois beijos.

"Melhor".

Suspiros.

O choro foi se acalmando lentamente... Até que passou. Mais um beijo. Me acalmei.

Dali em diante, toda vez que ele se lembrava do machucado, pedia dois beijos, um de cada lado. Beijos dados, machucado esquecido. Sem mais intervenções, o dodói sarou.

Está comprovado: beijinhos são 100% eficazes contra a dor.

O afeto cura.

Basta acreditar.