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O luto do carnaval


É Geraldo, fevereiro chegou e a saudade segue matando a gente.

Graciliano reviraria no túmulo, se soubesse que não existe mais qualquer certeza para nós, brasileiros.

Não tem mais nenhuma grande ilusão. E às vezes uma ilusão é só o que a gente precisa. A felicidade não chegou com o carnaval, do jeito que costuma ser. E a tristeza segue mesmo sem fim, como cantava o Poetinha. Nada, Vinicius, nada vai mudar na quarta-feira.

Mas como todo carnaval tem seu fim, a pandemia também terá. E eu seguirei me guardando para quando o carnaval finalmente chegar. Na hora em que isso acontecer, só sei que vou me acabar. A felicidade durará muito mais do que míseros 5 dias. Porque a minha carne é de carnaval e o meu coração é brasileiro. Cheio de esperança alimentada pelo brilhantismo de tantos artistas que enaltecem a nossa cultura e, assim, me representam e me enchem de orgulho.


Não é preciso gostar da festa, mas quem não entendeu o que um ano sem carnaval significa pra gente, não entendeu nada. É a materialização do luto de 235 mil famílias. Esse ano, o canto será em silêncio. O samba não vai passar. O agogô não vai tocar. A embriaguez do frevo permanecerá como saudosa lembrança daquele carnaval em Recife. A praia não chegará na árida Estação. Alas não se abrirão, nem a turma do funil vai chegar.


5 dias de um escandaloso silêncio. A voz mais expressiva do Brasil estará contida, em respeito a cada brasileiro que perdeu sua vida no último ano.


Deixemos a festa acabar, o barco precisa correr. Essa é maior homenagem que cada um de nós pode prestar àqueles que hoje choram a perda de um grande amor. É esse o grande hit de 2021: a vida vale mais que qualquer amor de carnaval. E finalmente no ano que vem, quando fevereiro de novo chegar, quem sabe a saudade e a covid já não matem a gente. Aí sim voltaremos a brilhar. Obrigada Fausto, Geraldo, Graciliano, Vinicius, Toquinho, Marcelo, Novos Baianos, Chico, Evandro, Alceu, Chiquinha, Tom e a tantos outros artista que me ajudaram a amar esse tal de Carnaval. É isso que ainda infla o meu orgulho de ser brasileira. E como diria Caetano: “Somente os tons, os mil tons, seus sons e seus dons geniais nos salvam dessas trevas...E nada mais"




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      Flávia Vilhena
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Sou a Flávia. Mãe do Caetano e do Augusto. Viajante, ex-blogueira (de viagem), advogada e agora escritora...

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