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Quebra-cabeças



Pouco tempo após o casamento meu marido já falava em filhos. Eu, ao contrário, não achava que era hora. De qualquer forma, mesmo ainda não tendo ouvido o tal sininho da biologia tocar, eu sabia que ele estava lá. Não porque eu estava certa de que queria ter filhos. Mas porque estava convicta de que não teria coragem de bancar a decisão de não ter. E por um motivo muito simples: eu não queria passar por essa vida sem conhecer esse amor.


Mas eu nunca deixei isso vir no piloto automático. Eu sempre questionei o custo dessa escolha. Porque sim, ele é alto.


Resolvi, então, levar o tema para a terapia.


Logo na primeira sessão expliquei para a terapeuta que eu queria ter filhos, mas não sabia como conseguiria encaixar uma criança na minha vida tão atribulada (pausa para as gargalhadas: vida atribulada kkkkkk #sabenadainocente).


Ela, de forma bastante simplista respondeu:


“Você não precisa se preocupar com isso. Simplesmente se encaixa.”


Nunca mais voltei.


Era pura intuição, mas hoje eu entendo muito bem.


Entendo porque a resposta me revoltou e entendo exatamente qual seria a resposta que eu daria para qualquer mulher que me fizesse essa pergunta.


"Você não conseguirá encaixar um filho na sua vida. Não nessa vida que você conhece. Mas tudo bem, sua vida não será mais a mesma.”


Ter um filho é assumir, de antemão, que a vida irá mudar. E que é você quem precisará de encaixar na vida nova.

Se as pessoas fossem mais claras em relação a isso, talvez a expectativas em torno da maternidade fossem muito mais reais. E, veja, não sou contra alimentar expectativas. Muito pelo contrário. Ter expectativas sobre alguma coisa, ao contrário do que diz o senso comum, é uma das ferramentas para alcançar a tão sonhada felicidade. Não sou eu quem está dizendo, é Shawn Achor, o guru da felicidade de Harvard. Mas desconfio que Shawn concorde que é bom que essas expectativas sejam mais reais e menos idealizadas, sob pena de que o tiro saia pela culatra.


Então para você, que ainda não tem filhos e já se fez a mesma pergunta eu diria: se você quer mesmo ter filhos, não se preocupe em como você irá encaixa-los na sua vida, pois essa vida que você conhece nunca mais será a mesma. Se preocupe apenas em compreender e aceitar isso. E em estar aberta para que essa mudança de corpo e alma possa fluir o mais levemente possível.


Não é o filho que se encaixa na sua realidade.


É a sua realidade que irá se encaixar na nova vida de mãe.


Isso também quer dizer que a piscina desse lado de cá não é gelada nem quentinha, mas sim diferente de tudo o que você já experimentou. E esse é justamente o tipo de coisa que não dá para contar como é. Só vivendo para saber.


Quer se transformar a esse ponto?


Então pula! De ponta, sem pestanejar.


Mas se você acha que não é capaz de se despedir da vida que você conhece, talvez seja melhor refletir um pouco mais.


Porque esse será, sem dúvidas, o grande teste de resiliência pelo qual você passará.


E bom, nessa piscina, depois que pula, não dá mais para sair. E lá dentro você poderá estar plena ou descabelada, serena ou se debatendo, confortável ou desajustada, calma ou enlouquecida. Possivelmente tudo isso ao mesmo tempo. Só tem uma coisa que, garanto, você não estará: a mesma de quando entrou.


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      Flávia Vilhena
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Sou a Flávia. Mãe do Caetano e do Augusto. Viajante, ex-blogueira (de viagem), advogada e agora escritora...

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