Você não é todo mundo

Você não é todo mundo.

Aquela frase que evoca grandes revoltas.

Você não é todo mundo.

Aquela fala dita do alto, que coloca fim aos menores e aos maiores embates.

Você não é todo mundo.

Aquela sentença que mata um filho de ódio.

Você não é todo mundo.

O monólogo simplista de quem não quer motivar a razão.

Você não é todo mundo.

Aquele jeito autoritário de expressar cuidado, proteção.

Você não é todo mundo.

A pá de cal sobre diálogos, disfarçada de lição.

Uma criança não é todo mundo.

Um adolescente então... não é todo mundo.

A gente esbraveja.

Se revolta.

Bate boca.

Briga.

Porque tudo o que a gente quer é ser igual a todo mundo. Ir àquele show, comer aquela sobremesa, ter a jaqueta da moda que todo mundo tem.

Aí a gente cresce.

E o caminho já está traçado.

E como são iguais os caminhos pré-determinados.

Vai pra escola.

Vai pra faculdade.

Vai ter sucesso.

Vai ganhar dinheiro.

Vai casar.

Vai ter filhos.

Vai trabalhar duro.

Para depois se aposentar.

E, de repente...

Todos parecem todo mundo.

Todos iguais.

É difícil desviar do caminho.

É difícil não ser todo mundo.

E o que era bronca parada na garganta vira foco.

Eu não quero ser todo mundo.

Grandes conflitos, agora internos, são novamente invocadas.

É desconfortável ser padrão.

É ato de coragem romper com o normal.

Meus pais tinham razão.

Eu não sou todo mundo.

E como é difícil abraçar essa autenticidade em um mundo que clama pela normalidade.

E como é divino ser fiel a si mesmo, ainda que isso implique em:

Ser diferente!

Eu não sou todo mundo.

E como eu gostaria de não ter demorado tanto tempo para entender isso.

Eu não sou todo mundo.

E que privilégio é poder ser eu mesma.

Eu não sou todo mundo.

Você não é todo mundo.

E, veja só, é justamente essa a melhor parte do mundo.